Em meus treinamentos costumo acordar com os alunos que o vamos olhar para o Scrum como uma metodologia, isto porque é uma técnica que envolve a "postura" frente o método. Acredite ou não, esse acordo facilita muito o treinamento e o entendimento das diferentes técnicas de gerenciamento de projetos que existem no mercado, e ressaltam a importância daquele que na minha opinião é o mais importante dos rituais do scrum: a Retrospectiva da Sprint.
A lógica por trás do conceito é relativamente simples, e igualmente poderosa: enquanto a maioria das técnicas no mercado são frameworks ou métodos que te dizem o quê você pode fazer, ou como você pode fazer, as metodologias te explicam o porquê você deve fazer, te dando uma postura a seguir: um propósito claro.
O propósito do scrum é responder a mudanças em ambientes de projetos, principalmente quando o escopo é variável, por isso faz tanto sentido para ambientes onde essas mudanças são inerentes à natureza do projeto, como projetos de software, projetos de consultoria, ou projetos de capital onde o investimento é de longo prazo, e a adaptação às mudanças no ambiente é inerente à construção.
Entendendo o porquê de cada metodologia fica fácil entender quando e onde aplica-las, não só isso: fica fácil entender que as cerimônias, os artefatos, as ferramentas envolvidas convergem para um mesmo propósito. Assim, é fundamental que tenhamos momentos no nosso dia a dia para nos lembrar desse propósito, e enxergarmos se estamos no caminho correto. Surge dai a importância da retrospectiva da sprint.
Metodologias tradicionais prezam sobre gestão de recursos, gerenciamento de pessoas e stakeholders e até mesmo gerenciamento da comunicação, porém não criam um momento específico para o aprimoramento dessas frentes, deixando-as para serem trabalhadas ao longo do projeto. O que é correto, não fosse pelo fato que normalmente a rotina engole os membros em milhares de tarefas, e quase não dá tempo para o time pensar sobre si mesmo.
Por isso a retrospectiva é um momento tão importante, é nesse momento que o time vai olhar para si, e identificar onde pode melhorar. É um momento de respiro e também um momento de união, a hora perfeita para práticas de team-building, de feedback, e também para revisitar alguns acordos que foram feitos no passado e que talvez não façam mais sentido. Não é o único momento onde iremos olhar para as pessoas, mas é a pedra angular de todo o desenvolvimento humano do projeto. Gosto de sair de uma retrospectiva com algumas noções bem definidas, são elas:
O que foi bem
O que podemos melhorar
Nossas recomendações.
Também pode-se optar por uma abordagem mais tradicional:
O que gostamos;
O que odiamos;
O que devemos começar a fazer;
O que devemos continuar fazendo;
O que devemos parar de fazer;
Funciona igualmente, mas para a maioria das dinâmicas que fazemos com o time, fica mais fácil identificar esses três pontos iniciais. Também é importante tentar deixar um clima positivo, por isso é bom evitar palavras que possam disparar gatilhos de negatividade.
Ainda assim, é comum que equipes deixem a retrospectiva de lado, focando mais no planejamento e na daily. Mas gerir projetos, é gerir pessoas, é praticar comunicação ativa e por isso, se posso dar um conselho: comece pela retrospectiva. Crie nela um momento para o time discutir as dores que existem, ao longo das sprints vai ficar claro a necessidade das demais cerimônias, e você terá começado por aquela que tem mais valor, praticando aquilo que prega.
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