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Foto do escritorRAPHAEL COSTA

Um fitoplancton no oceano azul do Cirque Du Soleil

Atualizado: 29 de jan. de 2021

Já ouviu a expressão “Oceano azul”? Ela remete a uma navegação tranquila, sem problemas, Renée Mauborgne e W. Chan Kim utilizaram essa expressão para demonstrar um tipo de estratégia utilizada por algumas empresas, onde o poder da concorrência simplesmente não interfere nos seus negócios, e você possui um oceano azul de possibilidades a frente. O exemplo é utilizado por milhares de escolas de negócio e é talvez o mais excelente exemplo de uma estratégia de inovação disruptiva, ou pelo menos era, até o Coronavírus.


Nessa analogia do oceano azul o coronovirus veio como um fitoplâncton, que começa a crescer sem aparente preocupação, e quando menos se espera já transformou as águas do seu oceano em tons magenta escuros. O fenômeno é indicador de eutrofização, ou em bom português: destruição do habitat natural ou a destruição do valor gerado em sí


Não se enganem, outras empresas bebem da mesma fonte e sofreram com os mesmos problemas, ex: Azul Linhas aéreas, Ifood e Uber.


A estratégia do oceano azul se baseia em 4 grandes atividades:


· Elevar: quais atributos podem ser elevados acima do padrão atual (produto, preço, serviço, qualidade)?

· Reduzir: quais fatores foram desenvolvidos apenas para fazer frente à concorrência e já não são totalmente necessários, portanto, podem ser reduzidos?

· Eliminar: quais atributos foram usados como pontos competitivos faz muito tempo e já podem ser eliminados (reduzindo custos inclusive)?

· Criar: quais fatores o setor nunca ofereceu e está na hora de serem criados, produzindo diferenciação e um mercado novo?


Para o Circu du soleil a análise fica mais ou menos assim, segundo Renée e Kim:



Perceba que embora exista muitas explicações sobre o que foi feito, pouco se diz sobre como chegar a essas conclusões, ou também o porque de escolher uma em detrimento de outra. O livro oferece insights, mas não uma metodologia para a análise. Não obstante, a ideia do Oceano Azul se baseia em criar um produto cujo valor é tão alto, que não importa as condições, o cliente sempre irá pagar o custo do produto, uma vez que o trade-off valor-custo é rompido.


A análise é fantástica o que justifica sua adesão por várias escolas de administração, porém a adoção é difícil, e agora ao que parece ela precisa ser revisitada. Assim como aconteceu com o trabalho de Kaplan e Norton sobre a ferramenta de Balanced Scorecard, críticos ao modelo apontavam que pouco se fala sobre o impacto de agentes externos na cadeia produtiva, em parte pela complexidade, em parte por não termos ainda ferramentas consagradas na descoberta dos “unknows unknows”, ou seja: riscos que não temos sequer consciência ou capacidade de entendimento - Faltou o mesmo na estratégia do oceano azul.


Aqui talvez caiba uma reflexão no modelo de negócio em si, enquanto a maioria das empresas que adotam o Oceano Azul possuem uma cadeia de valor puxada pela entrega de um único produto/serviço de alto valor agregado, e portanto viram seu valor cair por terra, temos empresas tradicionais que foram capazes de manter suas operações funcionando e ainda gerar lucro (ex: Amazon). O mercado financeiro já bastante habituado com essas situações nos dá uma lição simples e ímpar: diversificar é preciso.


Uma das maiores lições que prego quando ofereço consultoria financeira é que meus clientes tenham uma carteira diversificada. Os pesos variam conforme o perfil, mas normalmente utilizar a estratégia de Barbell é o caminho: balancear ativos de risco com ativos de pouco risco.


Para uma empresa essa análise pode ser levada para além: ativos de pouco risco representam as atividades que você domina e faz bem, e tem pouco ou nenhuma probabilidade de parar de faze-las. Ativos de risco são aquelas atividades com as quais você possui pouca familiaridade, e o risco de não trazer retorno são grandes. Cabe depois uma análise de cenários, do mais otimista ao mais pessimista, e entender quais as chances em cada um desses cenários.


Algumas empresas simplesmente optam por assumir o risco, e talvez esse tenha sido o caso do cirque du soleil, afinal as probabilidades de uma pandemia mundial parar suas operações não parece assim tão provável. De qualquer forma, cá estamos vendo gigantes e exemplos de inovação sofrendo para se manter em pé, resta-nos agora analisar isso, e como bom gestores de portfólio aprender com os problemas do que esse vírus criou, e adicionar como riscos prováveis para um futuro.

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